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28 janeiro 2024

Guillain Barre 1 ano depois

Final de junho de 2022 Ed teve uma convulsão (leve, comparada com as anteriores, mas incomum dentro do quadro de epilepsia com tratamento regularizado, rotina ok) que nos deu um susto. Com ajuda do meu pai, irmão e um vizinho, estabilizamos ele e levamos pro posto. Conseguimos alguns exames no mesmo dia, uma tomografia no dia seguinte, e uma ressonância que foi marcada pra dali pouco mais de 1 mês, tudo pelo sus. 

Na mesma semana apareceram alguns machucadinhos vermelhos e irritadiços na base da barriga. No posto falaram que era alergia e ele não deu muita importância. 

Ele entrou de férias, mas trabalhou muito comigo, estávamos cheios de planos: Aumentar a empresa, ele sair do clt e vir trabalhar exclusivamente comigo, procuras um lugar maior pra morar e ampliar a Mãe de papel, cuidar mais da gente e das crianças. 

Viajamos pra roça por um semana no final de julho/inicio de agosto.Estávamos no inicio do tratamento de TDDH do Caio, recém  diagnosticado. Eu e Laís tivemos uma virose forte e então decidimos antecipar a volta. Quase colocamos fogo no carro e demoramos 9 horas, numa viagem que seria de 4/5h. A vida estava pulsando e ativa. Voltamos na segunda. Ed voltou a trabalhar na quarta. Na sexta ele teve uma diarreia fortíssima, maior do que ja lembravamos... 

No início da semana seguinte ele começou a reclamar de um cansaço, de dormência nas mão e na boca. Como ele sempre foi muito dramático, não dei muita atenção. Ele foi fazer a ressonância nessa semana e tbm foi no posto umas 3 vezes. Falaram que era crise de ansiedade.

No sabado ele ja estava bem mal, bem indisposto. Parecia uma daquelas gripes fortes chegando. Ele passou a noite meio gemendo, sem posição, sem conseguir respirar, sem conseguir dormir. Por volta das 7h eu pedi que ele tomasse um banho quente para ajudar a relaxar o corpo... menos de 5 minutos depois, escutei ele cair no banheiro e me gritar. As pernas estavam perdendo as forças... consegui secar ele e ele se vestiu e foi meio se arrastando pro sofá. Era dia dos pais. Ultimo dia que as crianças viram o pai. 

Combinei com ele de seguir a programação do dia.. almoçar com as crianças e meus pais e irmãos e depois encarar o hospital sem hora pra sair. Na Upa descobrimos que aquela alergia da barriga era Hepes Zoster e que não tinha sido tratada. Passaram uma porção de antibióticos, tomou medicação e foi fazer exames. Ele foi internado depois da bateria de exames não detectar o que ele tinha, e a força das pernas não voltar. 

No dia seguinte, na upa, era dia de visita e passar pelo medico. Na ficha eu li pela primeira vez suspeita de Guillain Barre e meu mundo desabou ali mesmo pq eu tinha uma leve informação sobre a doença. E ali começou a batalha para tirar ele da Upa e passar ele para o hospital. Ed conhecia muita gente, falava com todo mundo, usava e abusava do "eu conheço fulano". Eu não. Mas fui atras dos amigos, da prima que trabalhava no hospital, de quem pudesse ajudar. Na terça a noite ele foi transferido pro quarto do hospital e eu pude ver ele na quarta. Ele já não tinha movimento nenhum nas pernas, os braços estavam começando a parar.. 

O exame para confirmar a Guillain Barre só poderia ser feito na semana seguinte. Seguiam as medicações, exames para descartar outras possibilidades e o corpo dele foi parando aos poucos.. na sexta ele fez uma pulsão, parte do procedimento de diagnóstico da doença.. e o diafragma ja estava parando. As enfermeiras e medica falaram que era ansiedade pq eu estava ali. Ele ja não conseguia engolir saliva. 

No sabado de manha, depois de um noite em pé, segurando ele dormindo sentado para não engasgar, chegou um medico mais dinâmico. O diagnóstico estava fechado, o que eles estavam esperando, iam transferir ele para a UPG para ele receber a medicação. Era Guillain barre, decorrente da Herpes Zoster e até da diarreia, foi o que o medico explicou. Tinhamos tomado vacina a mais de 7 meses, não tinha nenhuma relação com virus de vacina. Tudo isso ele me disse em volume alto e na velocidade 2x enquanto ia de um lado pro outro e fazia exame pq parecia que Ed estava infartando. 

Eu me despedi do Ed dia 20 de agosto de 2022. 20 dias depois de a gente voltar de viagem, cheios de planos e coisas para resolver. Foi a ultima vez que ouvi ele dizer que me amava. Ele disse que estava com medo e que ia morrer. Me deram informações erradas e eu nao fui no hospital no domingo, disseram que não podia entrar pra ver ele. Mas eu podia ter informações medicas. Na segunda cedo, quando cheguei lá, me deram a informação que ele estava entubado. 

Esperei 4 horas para ver ele. O medico me disse que tinha o resultado do exame feito na sexta. Era Guillain Barre (jura?! Ja sabiam disso a uma semana) mas que ele podia morrer a qualquer momento pq o coração tinha parado, o pulmão tbm e ele era paciente de alto risco. Assim, na minha cara, sem preparação, sem dó. Que a medicação dependia de um processo burocrático e cheio de documentações. Eu desabei ali. Não tinha forças para respirar. Essa parte quem resolvia, quem agilizava, era ele. Se não fosse o marido da minha irmã, meu cunhado, eu teria sentado ali e chorado até acabar o mundo. Ele ouviu todas as instruções e orientações e correu comigo pegar resolver tudo que precisava. Ainda correu comigo por mais 20 dias para ir e voltar do Hospital, todos os dias.

 Demorou 4 dias para ele começar a tomar a medicação. Em 4 dias que ele piorou. Que teve sepse. Que os rins pararam. E que eu fui para o hospital esperar o tempo que fosse para ver ele por 15 minutos ou 1 hora.. ou só para falar com os médicos e sair agradecida pq ele não tinha piorado naquele dia. Ed tomou 5 dias de Himunoglobulina. Mil pessoas tentaram ajudar.. falaram com um, com outro, ofereceram para pedir liminar.. mas no fim o processo foi como era.. 

O prognóstico era que depois da medicação o corpo dele teria que reaprender a funcionar. A sedação era diminuida e aumentada de acordo com a resposta dele.. alguns dias ele piscava o olho fechado para responder, noutros parecia que não tinha mais ninguem ali e em outros, os mais difíceis, eu vi ele se contorcendo. De dor ou para conseguir aprender a respirar. Ed fez diálise e melhorou, melhorou da sepse, estava respondendo ao trabalho da fisioterapia. Mas não conseguia respirar sozinho. 

16 dias depois de ir pra a Upg e entubar, foi preciso fazer uma traqueo pelo tempo que ja estava no tubo. Nesse dia não era dia de visita. Mas me deixaram entrar.. eu vi o rosto dele limpo pela primeira vez em mais de 2 semanas de tubo. Na visita seguinte passei mais de 1 hora dentro da UPG.. ele me respondeu de diversas formas piscou forte e fraco, ouvia tudo que eu falava. Mas estava inchado e tinha outros parâmetros piorando. Saí de lá com planos de voltar no domingo com a maquina de barbear dele. A enfermeira ia me deixar entrar em dia fora da visita e ia limpar o rosto dele. Foi a ultima vez que o vi com vida. Isso foi na sexta. Domingo, dia 11, às 11h40, Ed não resistiu a uma parada cardiorespiratória e morreu. Pouco mais de 1 mês depois de estarmos de ferias fazendo planos para uma vida inteira, ele se foi e eu fiquei sem rumo. 

1 ano e (quase) 5 meses depois o furacão parece que ja passou. Mas deixou um rastro de destruição que eu venho tentando reconstruir dia apos dia, sessão de terapia apos sessão. Com muitas conversas com a psicóloga do Caio, com a minha irmã (que segurou, com meu cunhado, muitas pontas que não eram deles), com ajuda quase 24h da minha mãe (mesmo que seja dando esporro) e do meu pai, com apoio do meu clube, apoio da minha tia/cumadre e do meu primo/cumpadre (que foram essenciais), muitas orações, palavras de incentivo e aquela msg que vinha mesmo depois que todo mundo ja tinha parado de mandar msg de poucas pessoas queridas. 

Eu passei toda minha vida adulta com o Ed. Passei por altos muito altos, baixos muito baixos, vacas gordas, vacas magras. Eu não sabia passar sem ele. Eu tive que aprender. Tive que entender que ele não esta mais aqui e não tem amor ou dor no mundo que vá mudar isso. Tive que fazer muitas coisas que ele "morreria" antes de me deixar fazer ou passar por aquilo sozinha. As lagrimas quase secaram de tanto que caíram. E não to nem perto de ter superado e aprendido a viver sem ele. Mas estou no caminho de aprender a viver comigo e entender quem eu sou e qual meu papel no mundo. Tomando remedio controlado, pq né?! Sozina é mais difícil. Trabalhando mais que consigo e menos do que preciso. Cuidando das crianças, mas ja garantindo a terapia pelos traumas, pq a minha paciência foi pro céu junto com o Ed. Seguindo o tratamento do Caio e tentando ser para Lais a parceria que o Ed era. Eu ainda não durmo. Ainda fico perdida. Mas ja consigo comprar um copo sozinha, sem desabar de chorar pq o Ed não esta comigo para decidir. E é isso. Um dia de cada vez. Um passo de cada vez.


31 dezembro 2023

Dever de casa da terapia - O que eu consegui em 2023

 - Encarei muitas primeiras, segundas e terceiras vezes, até parar de doer tanto até parar de sangrar em cada uma delas. 

- Entrei na auto escola. Não só de fazer matricula, mas de entrar naquele ambiente que era tão assustador pra mim. E consegui avançar e começar as aulas praticas. E sentir o Ed em cada uma delas e sentir o orgulho que ele sentiria por eu ja saber tanto daquilo. 

- andei de uber moto, uber carro, onibus, onibus de viagem.. andei muito de bicicleta. 

- resolvi os problemas de impressora e computador, mesmo seja pagando alguém para resolver pra mim, comprando novo e pagando muitas parcelas.

- paguei todas as contas que pude, e que nao puder

- comecei o tratamento dentário

- consegui comprar roupa pra mim e voltei a cuidar do meu cabelo

- consegui tirar mais fotos 

- não dei conta. Muitos dias eu não dei conta. Mas eu nao desisti. Não pensei em desistir em nenhum dia.

- cuidei do clube, de cada encontro, de cada leitura, de cada msg, de cada brinde, tanto quanto pude, com a ajuda da Karol. E não desisti dele.

- comprei 30 livros, li 24 (e alguns meio), 7.949 páginas, e mesmo quando eu não consegui ler o mundo da leitura seguiu me salvando!

- estive, com a Mãe de papel em umas 300 festas/comemorações ao longo do ano.

- pensei em desistir da Mãe de papel algumas muitas vezes. Mas não desisti.

- chorei em muitas entregas que eu não tinha controle, que eu tinha que pedir, que eu tinha que dar um jeito. Chorei muitas vezes ao receber o pedido, só de pensar na entrega. Mas entendi, com a terapia, que Ed não está mais aqui para mais essa função que ele desempenhava, e que essa parte é mais uma do meu processo de trabalho. (E ponto mesmo) E eu/clientes preciso pagar o preço e ajustar o planejamento para dar certo. 

- reafirmei parceirias importantes de trabalho e fiz novas, trabalhei muito. E só pude trabalhar tanto pq minha mãe me ajudou. Na produção de massa, no incentivo em estar perto e me tirar da "cama", no cuidado comigo e com as crianças. Mesmo quando eu não queria e achava que não precisava, foi primordial pra eu conseguir. 

- trabalhei quase em 100% das vezes por necessidade... mas recebi muito apoio, retornos positivos, elogios e agradecimentos. Aos poucos eu tento retomar o trabalhar por vontade e paixão.

- tive muito suporte medico de saude mental com as profissionais que me acompanham e as crianças.

- tive suporte imensurável familia, meu pai, meu irmão, minha irmã, meu cunhado, meu primo/cumpadre, munha tia/cumadre e orações, boas vibrações e carinho de tantos outros. 

- tive a presença (mesmo que virtual) de amigas queridas que me ajudaram tanto. E o carinho e cuidado de um tanto de outras que nao deixavam de mandar msg e se colocar a disposição, nem que fosse só para dar oi ou saber como aquele dia tinha sido. 

- passei todas as datas festivas, algumas ja pela segunda vez, e sobrevivi. 

- consegui (ou estou na luta pra conseguir) manter os gatos dentro de casa. Cuidar mais, limpar mais, dar mais atenção 

- consegui entender que preciso colocar limites, inclusive pra mim, para me manter ligeiramente sã (por isso me dei duas semanas de ferias e não sei ainda como pagar as contas de janeiro - mas não estou sofrendo por isso. 

- consegui fazer planos para 2024. Consigo ver um caminho para seguir. 


04 julho 2023

Falando em saudade - cartas para você

 Eu queria ter me despedido.

Queria ter me desculpado.

Queria que vc visse tudo que escrevo.

Que me abraçasse e dissesse que vai ficar tudo bem.

Queria que vc visse as crianças crescerem. Que não deixasse o trabalho todo pra mim.

Queria que vc tivesse vivido da mãe de papel. 

Queria estar rodeada dos seus amigos e das pessoas que te amavam. 

Queria que vc disse que me ama, de longe, só  com olhar.

Que me tirasse pra dançar  nas horas mais impróprias e nas próprias tbm. Acho que eu nunca mais vou conseguir dançar. 

Queria que vc conversasse comigo e me dissesse o que fazer, que caminho tomar. 

Queria  sentir seu cheiro e sua barba por fazer. 

Queria ter vivido uma nova vida depois do hospital. 

Que eu ficasse sem dormir pq estava alerta te vigiando ate melhorar. Queria ter ajudado  na sua recuperação. Eu tinha tanta certeza que vc ia se recuperar.  

Queria  que vc me visse dirigindo. Que ensinasse a Laís, depois o Caio. 

Queria  saber o que fazer sem vc aqui. 

Queria entender essa vida onde vc não esta de verdade. Fico pensando  se os últimos  anos a gente se afastou para eu aprender a viver sem vc.  

Aprender a dormir sem esta encostada  em vc, depois aprender a passar o dia e tomar as decisões. Aprender a cuidar de mim e das crianças. 

Mas eu ainda pego o celular  para ver se tem mgs sua antes do pilates  dizendo para eu tomar cuidado na rua e ir pelo canto. Se acontecer alguma coisa comigo, quem  vai cuidar de mim e das crianças.

Vc quem deveria fazer isso. Vc me prometeu. Vc sempre disse que não  me tirou da casa dos meus pais pata me deixar sozinha. Vc prometeu  que ia cuidar sempre de mim. Vc tinha que levar as crianças na escola amanhã. Tinha que ver a impressora  com problema, tinha que me esperar na terapia do Caio. 

 Vc tinha que estar aqui. 

E eu ainda não  sei o qie fazer sem vc. As pessoas querem  que eu supere e reaja. Que eu siga a vida. Eu só  sei ... eu não  sei nem quem sou eu.

Queria deitar e ficar deitada vendo tv ou mexendo no celular  esperando a vida passar. Pq eu ainda não  sei viver sem vc. 

Mas eu tenho que aprender. Tenho  que querer  o que é  possível.  Mesmo que o que seja possivel  agora, seja uma coisa de cada vez.

26 novembro 2022

Diário do Luto 3

 A solidão é o mais difícil entre tantas coisas tão difíceis. A solidão da conversa, a solidão das decisões, a solidão do cansaço,  a solidão do carinho. 

A solidão pode levar junto quem fica. As vezes me sinto assim, morta por dentro, como se não tivesse sobrado nada de mim além do corpo que segue no automático fazendo o que precisa. 

Hoje a psi falou que sem rede de apoio para falar sobre o luto, sobre o Ed, sobre a falta que ele me faz, sobre o que nós vivemos, eu posso entrar em um caminho de depressão. Mas de pouquíssimas exceções, as pessoas não querem falar sobre a tristeza, sobre a minha dor e a minha falta. Querem que eu supere, que eu sorria, que eu viva. 

Como eu vou superar se eu fecho os olhos e vejo o corpo do Ed num saco preto, com corpo torto e gelado. Ou então o vejo no caixão, sem vida, inchado enquanto eu beijava o rosto frio. 

Como eu vou sorrir se meu mundo se movimentava com apoio dele. Éramos um time que funcionava até quando estava perdendo. Agora para eu funcionar dependo de varias pessoas. E eu odeio depender e dar trabalho para as outras pessoas. 

Como eu vou viver, comprar roupas, comemorar se eu não consigo enxergar perspectiva boa em nada. Tenho medo do dia de amanha. Tenho medo do presente e do futuro. Não consigo planejar nada pq não tenho nenhuma segurança de nada. Eu perdi minha segurança e meu porto seguro quando Ed internou no hospital. 

Ainda não consigo acreditar que eu e as crianças estamos passando por isso. Nãos consigo acreditar que o Ed se foi e não vai ver o filhos crescerem. Na dor que ele deve ter sentido quando se deu conta que faltaria para a gente. Não consigo acreditar que vou superar, sorrir e viver. 

Eu preciso descobrir quem eu sou ou talvez construir quem eu sou agora. Mas o máximo de forças que eu tenho é para levantar e seguir respirando. Para fazer o básico para as crianças. Para aceitar todo o trabalho que chega mesmo sabendo que não vou dar conta e dar conta pq não tenho alternativa a não ser dar conta. 

Eu me sinto sozinha o tempo todo. E é louco me sentir tão sozinha agora, depois de ter ficado quase 1 mês com atenção total deu muita gente por conta do estado do Ed. Só me confirma que ele que era o legal e eu sempre soube disso. 

Só tenho medo de sucumbir a esta tristeza e solidão que me engolem todos os dias. E esse é só mais um medo que se acumula dentro de mim, dividindo espaço com a tristeza, a saudade, a solidão e a dor de não ter mais o Ed aqui comigo.

17 novembro 2022

Falando em saudade 2

 É difícil essa coisa de sentir saudade do que não  chegou a viver. Eu fico imaginando as situações,  como seria se ele estivessse aqui e o buraco que se forma no meu peito só  faz aumentar. Hoje eu vi que dias normais são os mais difíceis  e eu não  podia concirdar mais. São nos dias normais que a saudade apertar  pelo que estamos deixando de viver juntos. 

Aquela ligação que eu não posso fazer para contar que o Caio vai usar oculos. E que ele ficou tão  lindo. Que o clube bateu a meta de participantes em menos de uma semana. Que depois de 3 meses, esse mês voltei a ter pedidos num ritmo maior e voltei a conseguir fazer as artes... com quem eu divido isso no final da noite?

Eu só sinto tristeza, raiva, irritação, frustração, medo... pq eu?! Pq estou sozinha sentindo meu peito rasgar de saudade quando faço aquela comoda que ele gosta, ou quando lembro alguma  coisa nossa, ou quando fico com medo. 

Eu to com muito  medo e me sentindo muito sozinha  e sentindo muita  saudade. 

16 novembro 2022

Falando em saudade 1

 Eu penso nele o tempo todo. Ainda acho muito estranho ele não estar mais aqui. A gente não  ficava sem sem falar nem quando a gente  brigava. Eu não conseguia não falar com ele. E mais que isso, eu não conseguia que ele não  falasse comigo. Então até quando eu tava certa na briga, eu voltava atras para falar com ele.

É  louco mais eu lembro exatamente do dia que eu me apaixonei por ele. Da sensação de ver ele diferente do que tinha visto no dia anterior, dele me abraçar para me proteger do tumulto e meu coração parar. Eu só  tinha 17 anos, ele 25 e quase 2 metros de altura. Nunca me senti tão  segura. Lembro de sentir aquele sensação  toda vez que a gente "recriava" aquele dia.  A sensação do primeiro  beijo e a tristeza quando eu tomei um fora dele. 

Lembro dele me ligando, quase 1 ano depois  do nada, sem assunto. E depois me ligando todos os dias, diversas vezes (telefone fixo) por mais de 1 mês até o nosso segundo primeiro beijo.  

O que eu mais lembro, e tbm o que mais dói, é o abraço. Aquele do dia que me apaixonei, e que mesmo nos piores momentos que passamos, quando pensavamos em nos separar, me dava segurança e amor. Eu nunca me senti tão  sozinha e desprotegida sem o abraço  dele. Eu nunca me senti tão sozinha e desprotegida sem as respostas dele. 

Pq que ainda parece que é mentira? Será que algum dia vai parar de doer? Sera que algum dia eu vou voltar a sentir alguma felicidade de verdade sem ele? 

10 novembro 2022

Dor do luto 2

 Ed se foi. Ed faleceu. Ed morreu. Com ele eu morri um pouco.  Com ele morreram nossos projetos futuros, nosso cafe da manhã no passeio pela zona sul. Com ele morreu a nossa segurança, o nosso sentido de proteção.  Com ele morreu  meu suporte, meu ombro amigo.

Eu passei 2 dias repetindo  o que ia fazer da minha vida sem ele. E ainda não sei. 

Eu sinto culpa pelas brigas que passaram, pelo tempo que ficavamos sem nos falar, pelo muro que eu criava entre a gente. Eu só  queria voltar no tempo e da um beijo nele. Sentir sua pele quente e ouvir dele que vai ficar tudo bem. 

Seu cheiro sumiu da casa. 1 mês  de hospital  nos levou isso, todas as roupas foram lavadas e guardadas para esperar a volta dele. O nosso quarto esta quase assombrado, tinha sido preparado para sua volta e sua reabilitação, e agora nem nossa cama esta mais lá. Ele nao esta mais aqui, então é mais seguro ficar no quarto com a janela voltada pro condomínio  e não  pra rua. 

Suas coisas aos poucos vão deixando de existir  e cada vez que acontece a dor de perder ele novamente  retorna.  Hoje eu fiquei perdida com o computador  que voltou da manutenção. Que não  foi ele quem fez, nao foi ele que resolveu o que deu errado, ele não estava a aqui para eu brigar que não  podia ter feito isso ou aquilo no meu computador  de trabalho.  É  quase engraçado,  mas a dor veio de forma viceral e eu só  queria chorar e gritar.  E eu gritei com as crianças para sairem de perto de mim. Assustei o Caio. Pedi desculpas, respirei, respirei. A falta dele me deixa perdida por dentro e por fora. 

Tento pensar no futuro. Tento pensar pelo menos em amanhã.  Mas fico com medo de novo, sei que vai  doer. Amamha vamos a Petrópolis no pediatra das crianças.  Eu nunca fui a Petrópolis  sem o Ed (so quando era criança). Eu nunca fiz muitas coisas sem o Ed que agora eu estou precisando fazer e descobrir, redescobrir.  

Não  faz sentido. Queria que fizesse. O que eu escrevo, o que to vivendo... queria que fizesse algum sentido. Quando  eu acho  que eu to avançado, me sinto andando pra trás assustada. 

08 novembro 2022

Diario do luto 1

 Não  sei se vai fazer sentido. Acho que alguma hora escrever sobre o que aconteceu vai fazer parte desse diario, repetir muitas vezes ate eu entender, ate fazer sentido, ate, talvez cair a ficha que agora sou viúva, que perdi o amor da minha vida, que perdi meu porto seguro e meu melhor amigo. 

Eu preciso  escrever. Escrever com a sensação  que estou sendo lida por alguém,  escrever para colocar pra fora. Para não sufocar  com essa dor e tristeza  dentro de mim

Os dias são  estranhos. Tem dia que passa, e dói   mas eu sigo.  Tem dia que destrói,  se arrasta  leva cada minuto em sofrimento.  Hoje foi um desses dias. To chorando  desde domingo a noite. E são  choros diferentes,  agora me dei conta disso, por isso vim escrever. 

Tem a dor da ausência.  Aquela que eu sinto nas coisas praticas do dia a dia. Que sinto na falta dele quado Caio tem uma crise de raiva, quando  preciso decidir  de uma entrega, quando preciso responder alguma coisa do apartamento, do carro... quando vejo um lugar legal que eu iria mostrar pra ele e a gente nunca ia conseguir ir, mas ia fazer varios planos. Quando vejo uma viagem, tipo que a gente planejou pra esse ano mais que não  rolou... quando o computador  trava, a impressora não puxa.. quando não  consigo responder  alguma pergunta  das crianças,  ou quando não  consigo configurar algum aplicativo.  Quando eu escuto um barulho  la de trás, quando  eu vou no comércio  de bicicleta,  quando eu chamo um uber, e mais um... quando  no final do dia eu não  tenho ninguém  pra "me render" com as crianças  e minha paciência  acabou a muito tempo. Quando  ta chovendo, quando ta pesado, quando  eu não  sei por onde começar.  A ausencia da presença dele bate com força em mim, como um porrete, e dói  fisicamente  e me deixa perdida. 

A dor da saudade é  quase  mais cruel pq ela esta toda dentro de mim. Da falta  que faz, da culpa por ter feito algo ou por não  ter feito, por ter dito algo ou por nao ter dito. Da sensação  dele no banheiro,  do abraço que não  vem, da dança  na hora  errada, da careta nas poucas vezes que eu queria tirar foto. Da voz, do cheiro, da pele. Saudade do passado, saudade do futuro que a gente estava planejando, do nosso desconhecido que eu não tinha medo pq tinha ele do meu lado.  

Ainda é  difícil  acreditar  pq não faz sentido.  Eu falo com as pessoas para ver se torna mais real, mas é  real pra quem ta de fora, quem ta longe. Pra mim não  faz sentido parece mentira, parece que ele vai chegar puto pela brincadeira  de mau gosto. Ao mesmo tempo não  consigo fechar os olhos e lembrar dele  da voz. So lembro do velório,  do caixão,  daquela sensação  de estar caindo num buraco  sem fim enquanto as pessoas falavam comigo. Mais ainda assim eu não  consigo acreditar  e entender o que aconteceu

Estou nesse misto de dor e tristeza, perdida dentro de mim. Sem entender quem eu sou agora e o que eu vou fazer amanhã (era mais facil quando ele decidia tudo  mesmo quando decidia nao fazer absolutamente  nada). As pessoas me chamam de forte, dizem que eu tenho que seguir pelas crianças.  Que eu aonda estou aqui e eles tbm. Mas parece que esta tudo borrado, tudo rora de foco e fora de sentido. Eu digo que estou seguindo  que Deus esta ajudando, mas estou no mesmo ponto que estava dia 11/09 quando eu dizia que eu não  sabia o que eu ia fazer sem ele. 

04 julho 2016

Sobre mim, a Mãe de Papel e o caminhar

Muitas vezes me questionei, no ultimos 2 anos, sobre manter o blog... Na maioria das vezes preferi não responder. Confesso que era muito mais facil blogar e, principalmente, escrever, quando se tinha tempo de sobra (pq era preciso cumpri 9 horas diárias de ponto) e cabeça vazia (pq tempo ocioso deixa a cabeça vazia)...

Hoje não tenho nenhum dos dois... a não seu de madrugada!!! Não... nem de madrugada, pq a cabeça não para, pq o tempo continua correndo e minha lista de pendencias, coitada, cresce diariamente (ao contrário de todas as plantas que já tentei cultivar no apertamento!!!)

Mas o blog permanece... permanece pq ele tem lembranças e memórias... Muitas.. das quais eu não lembraria se não tivesse o blog e não acessaria se, simplesmente fechasse ele e colocasse num arquivo de word... Vai permanecer mea boca, vai ser alimentado da forma mais confusa, falando cada vez mais de mim e menos das crianças, vai falar da Mãe de Papel e do que vier pela frente... Sabe-se lá o que vem, vai que preciso matar o tempo de 9h diárias de novo (bate 3x na madeira ae!!!)

É isso...  o caminhar veio antes e vem depois tbm... Mas falando sobre a Mãe de Papel...

Ah, a Mãe de Papel... é meu xodó, sabe... É meu terceiro filho, com cara de filho mais velho (acho que da idade do meu sonho de me encontrar... É um filho que eu queria muito que tivesse dedicação excRusiva e as tais 9h diárias de trabalho... mas estamos longe disso AINDA!!!

Um dos meus investimentos da Mãe de Papel, foi em maquinário para trabalhar com Scrap. Hoje vejo que podia ter investido melhor e estudado um pouco mais... mas tá bom, pq foi como dava pra ser... na marra.. antes que deixasse de ser...

Em algum momento entre a criação da pagina do facebook , minha saída efetiva do trabalho e o começo da nova rotina, o scrap AND as festas tomaram conta da Mãe de Papel... De tal forma, que não foi possível voltar atras. Me encontrei onde eu já me encontrava, só não sabia, saca?! (se não saca, releve o horário..só esse que consigo escrever e as ideias ficam confusas... rsrs)

Mas daí que me vi em meio a tanta informação, que fui absorvendo que nem esponja, só que sem extravasar para nenhum lado... no mesmo passo que marido quase surtava por não ter conseguido realocação... foram 6 meses muito intensos...

Aprendi muito sobre mim, mesmo antes do processo de coaching... aprendi a engolir muito mais em nome do bem estar do outro, a dar conta de tudo que eu pudesse dar e do que não pudesse tbm, afinal eu não estava sozinha, aprendi que tínhamos poucos amigos, pouquíssimos, para ser bem sincera... Muita gente que urubuzou, veio perguntar só para saber em qual tanto de merda a gente tava e que depois nunca mais ligou. E que os poucos, pouquíssimos, esses vão até o fim pq estão ainda do nosso lado, nos perguntando como vai o dia, mesmo que não seja todo dia... Isso é um aprendizado e tanto.

Mas da parte boa, aprendi que tenho talento (tenho mesmo, pode acreditar!!), que tenho mão para papel e artesanato, que sou detalhista e criativa e que tenho mais para aprender todos os dias...

A Mãe de Papel cresceu nos últimos 5 meses de uma forma absurda... E sei que vai crescer mais nos próximos meses e anos. Hoje, consigo ter projetos agendados com antecedência e toda semana a agenda fecha com trabalho. Vivemos assim, uma semana depois da outra e ta dando certo!!!

Quero muito mais ainda... e estou aprendendo a dividir minha atenção entre Marido - que se encontrou depois de muito bater cabeça, trabalhando por conta própria tbm, Laís - que esta aprendendo a ler e esta numa fase muito complicada entre a dependência e a independência, e o Caio - que é minha sombra, LITERALMENTE!!! Ah... e não menos importante minha atenção a mim, tbm. Pq sou gente e se eu não funcionar bem a engrenagem ai de cima para totalmente.

18 abril 2016

Sobre se descobrir, sobre o auto conhecimento e sobre mim

Nesse período de transição, mudança, furacão que passou na minha vida nos últimos meses (quase 1 ano, já), tive a oportunidade de fazer um processo que a muito tempo eu queria fazer, mais não tinha oportunidade/possibilidade de fazer por N motivos. 

O coaching foi o processo que despertou dentro de mim a vontade de mudar, mesmo sem passar pelo processo. Comecei a seguir pessoas que questionavam as verdades absolutas que nos são impostas todos os dias e àquelas em que acreditamos (ou nos fazem acreditar) desde sempre.

Dai depois que vc começar a pesar e a questionar é um caminho sem volta. E peguei esse caminho a uns 3/4 anos, quando comecei a me questionar. Daí veio todo o processo decisão, duvida, amadurecimento, se jogar com a cara e a coragem... e tudo mais.

Mas não é facil. Nem perto disso. 

Final do ano passado, quando estava no meio do olho do furacão da Doroty, prestes a desistir de tudo e acreditar que eu tinha feito merda, desacreditar de mim, perder o animo e as esperanças que eu conseguisse dar conta, uma pessoa cruzou o meu caminho. Daquelas coisas que a gente acha que não acontece, que não pode acontecer, que não tem gente boa no mundo para fazer acontecer.

Mas tem, muitas. Entre elas a Bethania, do site Viver e Melhor, que estava no mesmo grupo que eu, que deixou uma mensagem no grupo na hora em que eu estava online, zapeando o facabook, e ofereceu uma vaga para o programa que iria começar. E assim nos encontramos. 

Assim eu quase desisti antes mesmo de começar. Mas não desisti. E nos encontramos (e desencontramos algumas vezes em que a casa parecia que ia desabar) , nos encontramos por 3 meses, toda semana, ao vivo, tete a tete. 

E a Mãe de Papel ganhou novo folego, eu ganhei uma injeção de adrenalina e muita reflexão... É um processo muito maior do que eu imaginava. Muito mais completo e, as vezes até doloroso de auto conhecimento e crescimento. Mas é incrível e eu nunca vou para de agradecer a Bê por toda a transformação que ela me guiou para conseguir.

E essa é minha "ultima" tarefa do processo. Uma carta para a que eu sou ou quero ser daqui a alguns meses.

***

Esse texto, ou carta, é uma projeção, uma idealização ou um vislumbre do que eu quero e posso ser daqui até o inicio do ano que vem. 

Como se hoje fosse 1º de janeiro e eu estivesse naquele momento de reflexão que sempre fazemos quando chega a virada do ano e o inicio de um novo ciclo. Quando faltam poucos dias para o meu aniversário e meu momento de reflexão fica ainda mais forte pelo “inferno astral” pré aniversario.

Acredito que estou muito mais agradecida do que aborrecida com os últimos meses, que o crescimento e amadurecimento pessoal e profissional do ultimo ano, valeram tanto quanto os 10 anos de trabalho escravo no Inmetro.

Acredito que estou no caminho que quero estar com a mãe de papel, que cresci o tanto quanto fui capaz e me dediquei ao máximo para isso. E que o que não cresci, tudo bem, temos mais um ano pela frente para conseguir. 

Acredito que já conseguimos nos encontrar em uma rotina familiar que me permite trabalhar sem culpa. Na verdade acredito que culpa é daqueles sentimentos que quase não sinto mais. Acredito que estou mais disposta fisicamente e que consegui encontrar uma atividade que me dê prazer e que renove minhas energias. 

Acredito que consegui encontrar um equilíbrio entre minhas obrigações, minhas necessidades e as necessidades das crianças. Acredito que mesmo trabalhando muito mais, afinal agora tenho uma rotina que me permite isso, consigo brincar mais com as crianças, consigo estimular mais os dois e dar atenção individual a cada um. 

Acredito que me sinto mais bonita, afinal estou me exercitando. Mas mais do que isso, estou cuidando de mim e olhando mais para mim. Acredito que isso vai ser um reflexo do meu amor próprio e do meu auto controle emocional, que pode até não estar controlado, afinal eu sou de carne e osso e continuo sendo eu, mais não vou mais estar na sensação de montanha russa. 

Acredito que cuidar de mim não vai ser mais motivo de culpa, afinal lembra que não permito mais a culpa. E acredito que cuidando mais de mim e me sentindo mais bonita, minha relação com o marido tbm vai estar melhor. Ainda vamos ser nos dois, que damos choque, mais vamos estar ainda mais fortes juntos. 

 Acredito que vou me deixar abater cada vez menos pela instabilidade e vou estar cada vez mais segura. E quando eu estou segura, nada me segura. 

Acredito que vou terminar essa reflexão, daqui a alguns meses, com um sorriso no rosto e uma sensação de: “caralho, eu sou foda!”, pq né, esse foi meu primeiro ano completo dedicado a mim e a tudo que amo e acredito. E ao contrario das expectativas e perspectivas (principalmente de terceiros), eu estou feliz. 

E é só o começo, pq no dia 1º, para mim, realmente começa tudo de novo. E eu vou estar pronta pro que vier. E eu quero que venha mais. Que eu não pare de me conhece, entender e respeitar. Que a Mãe de Papel brilhe tanto quanto sei que ela pode e vai brilhar, pq vou cuidar disso. Que as crianças estejam felizes e que não falte nada: material e emocional. E eu tbm vou cuidar disso. 

Pq não é fácil. Mas se fosse, não tinha graça