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08 novembro 2022

Diario do luto 1

 Não  sei se vai fazer sentido. Acho que alguma hora escrever sobre o que aconteceu vai fazer parte desse diario, repetir muitas vezes ate eu entender, ate fazer sentido, ate, talvez cair a ficha que agora sou viúva, que perdi o amor da minha vida, que perdi meu porto seguro e meu melhor amigo. 

Eu preciso  escrever. Escrever com a sensação  que estou sendo lida por alguém,  escrever para colocar pra fora. Para não sufocar  com essa dor e tristeza  dentro de mim

Os dias são  estranhos. Tem dia que passa, e dói   mas eu sigo.  Tem dia que destrói,  se arrasta  leva cada minuto em sofrimento.  Hoje foi um desses dias. To chorando  desde domingo a noite. E são  choros diferentes,  agora me dei conta disso, por isso vim escrever. 

Tem a dor da ausência.  Aquela que eu sinto nas coisas praticas do dia a dia. Que sinto na falta dele quado Caio tem uma crise de raiva, quando  preciso decidir  de uma entrega, quando preciso responder alguma coisa do apartamento, do carro... quando vejo um lugar legal que eu iria mostrar pra ele e a gente nunca ia conseguir ir, mas ia fazer varios planos. Quando vejo uma viagem, tipo que a gente planejou pra esse ano mais que não  rolou... quando o computador  trava, a impressora não puxa.. quando não  consigo responder  alguma pergunta  das crianças,  ou quando não  consigo configurar algum aplicativo.  Quando eu escuto um barulho  la de trás, quando  eu vou no comércio  de bicicleta,  quando eu chamo um uber, e mais um... quando  no final do dia eu não  tenho ninguém  pra "me render" com as crianças  e minha paciência  acabou a muito tempo. Quando  ta chovendo, quando ta pesado, quando  eu não  sei por onde começar.  A ausencia da presença dele bate com força em mim, como um porrete, e dói  fisicamente  e me deixa perdida. 

A dor da saudade é  quase  mais cruel pq ela esta toda dentro de mim. Da falta  que faz, da culpa por ter feito algo ou por não  ter feito, por ter dito algo ou por nao ter dito. Da sensação  dele no banheiro,  do abraço que não  vem, da dança  na hora  errada, da careta nas poucas vezes que eu queria tirar foto. Da voz, do cheiro, da pele. Saudade do passado, saudade do futuro que a gente estava planejando, do nosso desconhecido que eu não tinha medo pq tinha ele do meu lado.  

Ainda é  difícil  acreditar  pq não faz sentido.  Eu falo com as pessoas para ver se torna mais real, mas é  real pra quem ta de fora, quem ta longe. Pra mim não  faz sentido parece mentira, parece que ele vai chegar puto pela brincadeira  de mau gosto. Ao mesmo tempo não  consigo fechar os olhos e lembrar dele  da voz. So lembro do velório,  do caixão,  daquela sensação  de estar caindo num buraco  sem fim enquanto as pessoas falavam comigo. Mais ainda assim eu não  consigo acreditar  e entender o que aconteceu

Estou nesse misto de dor e tristeza, perdida dentro de mim. Sem entender quem eu sou agora e o que eu vou fazer amanhã (era mais facil quando ele decidia tudo  mesmo quando decidia nao fazer absolutamente  nada). As pessoas me chamam de forte, dizem que eu tenho que seguir pelas crianças.  Que eu aonda estou aqui e eles tbm. Mas parece que esta tudo borrado, tudo rora de foco e fora de sentido. Eu digo que estou seguindo  que Deus esta ajudando, mas estou no mesmo ponto que estava dia 11/09 quando eu dizia que eu não  sabia o que eu ia fazer sem ele. 

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