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26 novembro 2022

Diário do Luto 3

 A solidão é o mais difícil entre tantas coisas tão difíceis. A solidão da conversa, a solidão das decisões, a solidão do cansaço,  a solidão do carinho. 

A solidão pode levar junto quem fica. As vezes me sinto assim, morta por dentro, como se não tivesse sobrado nada de mim além do corpo que segue no automático fazendo o que precisa. 

Hoje a psi falou que sem rede de apoio para falar sobre o luto, sobre o Ed, sobre a falta que ele me faz, sobre o que nós vivemos, eu posso entrar em um caminho de depressão. Mas de pouquíssimas exceções, as pessoas não querem falar sobre a tristeza, sobre a minha dor e a minha falta. Querem que eu supere, que eu sorria, que eu viva. 

Como eu vou superar se eu fecho os olhos e vejo o corpo do Ed num saco preto, com corpo torto e gelado. Ou então o vejo no caixão, sem vida, inchado enquanto eu beijava o rosto frio. 

Como eu vou sorrir se meu mundo se movimentava com apoio dele. Éramos um time que funcionava até quando estava perdendo. Agora para eu funcionar dependo de varias pessoas. E eu odeio depender e dar trabalho para as outras pessoas. 

Como eu vou viver, comprar roupas, comemorar se eu não consigo enxergar perspectiva boa em nada. Tenho medo do dia de amanha. Tenho medo do presente e do futuro. Não consigo planejar nada pq não tenho nenhuma segurança de nada. Eu perdi minha segurança e meu porto seguro quando Ed internou no hospital. 

Ainda não consigo acreditar que eu e as crianças estamos passando por isso. Nãos consigo acreditar que o Ed se foi e não vai ver o filhos crescerem. Na dor que ele deve ter sentido quando se deu conta que faltaria para a gente. Não consigo acreditar que vou superar, sorrir e viver. 

Eu preciso descobrir quem eu sou ou talvez construir quem eu sou agora. Mas o máximo de forças que eu tenho é para levantar e seguir respirando. Para fazer o básico para as crianças. Para aceitar todo o trabalho que chega mesmo sabendo que não vou dar conta e dar conta pq não tenho alternativa a não ser dar conta. 

Eu me sinto sozinha o tempo todo. E é louco me sentir tão sozinha agora, depois de ter ficado quase 1 mês com atenção total deu muita gente por conta do estado do Ed. Só me confirma que ele que era o legal e eu sempre soube disso. 

Só tenho medo de sucumbir a esta tristeza e solidão que me engolem todos os dias. E esse é só mais um medo que se acumula dentro de mim, dividindo espaço com a tristeza, a saudade, a solidão e a dor de não ter mais o Ed aqui comigo.

17 novembro 2022

Falando em saudade 2

 É difícil essa coisa de sentir saudade do que não  chegou a viver. Eu fico imaginando as situações,  como seria se ele estivessse aqui e o buraco que se forma no meu peito só  faz aumentar. Hoje eu vi que dias normais são os mais difíceis  e eu não  podia concirdar mais. São nos dias normais que a saudade apertar  pelo que estamos deixando de viver juntos. 

Aquela ligação que eu não posso fazer para contar que o Caio vai usar oculos. E que ele ficou tão  lindo. Que o clube bateu a meta de participantes em menos de uma semana. Que depois de 3 meses, esse mês voltei a ter pedidos num ritmo maior e voltei a conseguir fazer as artes... com quem eu divido isso no final da noite?

Eu só sinto tristeza, raiva, irritação, frustração, medo... pq eu?! Pq estou sozinha sentindo meu peito rasgar de saudade quando faço aquela comoda que ele gosta, ou quando lembro alguma  coisa nossa, ou quando fico com medo. 

Eu to com muito  medo e me sentindo muito sozinha  e sentindo muita  saudade. 

16 novembro 2022

Falando em saudade 1

 Eu penso nele o tempo todo. Ainda acho muito estranho ele não estar mais aqui. A gente não  ficava sem sem falar nem quando a gente  brigava. Eu não conseguia não falar com ele. E mais que isso, eu não conseguia que ele não  falasse comigo. Então até quando eu tava certa na briga, eu voltava atras para falar com ele.

É  louco mais eu lembro exatamente do dia que eu me apaixonei por ele. Da sensação de ver ele diferente do que tinha visto no dia anterior, dele me abraçar para me proteger do tumulto e meu coração parar. Eu só  tinha 17 anos, ele 25 e quase 2 metros de altura. Nunca me senti tão  segura. Lembro de sentir aquele sensação  toda vez que a gente "recriava" aquele dia.  A sensação do primeiro  beijo e a tristeza quando eu tomei um fora dele. 

Lembro dele me ligando, quase 1 ano depois  do nada, sem assunto. E depois me ligando todos os dias, diversas vezes (telefone fixo) por mais de 1 mês até o nosso segundo primeiro beijo.  

O que eu mais lembro, e tbm o que mais dói, é o abraço. Aquele do dia que me apaixonei, e que mesmo nos piores momentos que passamos, quando pensavamos em nos separar, me dava segurança e amor. Eu nunca me senti tão  sozinha e desprotegida sem o abraço  dele. Eu nunca me senti tão sozinha e desprotegida sem as respostas dele. 

Pq que ainda parece que é mentira? Será que algum dia vai parar de doer? Sera que algum dia eu vou voltar a sentir alguma felicidade de verdade sem ele? 

10 novembro 2022

Dor do luto 2

 Ed se foi. Ed faleceu. Ed morreu. Com ele eu morri um pouco.  Com ele morreram nossos projetos futuros, nosso cafe da manhã no passeio pela zona sul. Com ele morreu a nossa segurança, o nosso sentido de proteção.  Com ele morreu  meu suporte, meu ombro amigo.

Eu passei 2 dias repetindo  o que ia fazer da minha vida sem ele. E ainda não sei. 

Eu sinto culpa pelas brigas que passaram, pelo tempo que ficavamos sem nos falar, pelo muro que eu criava entre a gente. Eu só  queria voltar no tempo e da um beijo nele. Sentir sua pele quente e ouvir dele que vai ficar tudo bem. 

Seu cheiro sumiu da casa. 1 mês  de hospital  nos levou isso, todas as roupas foram lavadas e guardadas para esperar a volta dele. O nosso quarto esta quase assombrado, tinha sido preparado para sua volta e sua reabilitação, e agora nem nossa cama esta mais lá. Ele nao esta mais aqui, então é mais seguro ficar no quarto com a janela voltada pro condomínio  e não  pra rua. 

Suas coisas aos poucos vão deixando de existir  e cada vez que acontece a dor de perder ele novamente  retorna.  Hoje eu fiquei perdida com o computador  que voltou da manutenção. Que não  foi ele quem fez, nao foi ele que resolveu o que deu errado, ele não estava a aqui para eu brigar que não  podia ter feito isso ou aquilo no meu computador  de trabalho.  É  quase engraçado,  mas a dor veio de forma viceral e eu só  queria chorar e gritar.  E eu gritei com as crianças para sairem de perto de mim. Assustei o Caio. Pedi desculpas, respirei, respirei. A falta dele me deixa perdida por dentro e por fora. 

Tento pensar no futuro. Tento pensar pelo menos em amanhã.  Mas fico com medo de novo, sei que vai  doer. Amamha vamos a Petrópolis no pediatra das crianças.  Eu nunca fui a Petrópolis  sem o Ed (so quando era criança). Eu nunca fiz muitas coisas sem o Ed que agora eu estou precisando fazer e descobrir, redescobrir.  

Não  faz sentido. Queria que fizesse. O que eu escrevo, o que to vivendo... queria que fizesse algum sentido. Quando  eu acho  que eu to avançado, me sinto andando pra trás assustada. 

08 novembro 2022

Diario do luto 1

 Não  sei se vai fazer sentido. Acho que alguma hora escrever sobre o que aconteceu vai fazer parte desse diario, repetir muitas vezes ate eu entender, ate fazer sentido, ate, talvez cair a ficha que agora sou viúva, que perdi o amor da minha vida, que perdi meu porto seguro e meu melhor amigo. 

Eu preciso  escrever. Escrever com a sensação  que estou sendo lida por alguém,  escrever para colocar pra fora. Para não sufocar  com essa dor e tristeza  dentro de mim

Os dias são  estranhos. Tem dia que passa, e dói   mas eu sigo.  Tem dia que destrói,  se arrasta  leva cada minuto em sofrimento.  Hoje foi um desses dias. To chorando  desde domingo a noite. E são  choros diferentes,  agora me dei conta disso, por isso vim escrever. 

Tem a dor da ausência.  Aquela que eu sinto nas coisas praticas do dia a dia. Que sinto na falta dele quado Caio tem uma crise de raiva, quando  preciso decidir  de uma entrega, quando preciso responder alguma coisa do apartamento, do carro... quando vejo um lugar legal que eu iria mostrar pra ele e a gente nunca ia conseguir ir, mas ia fazer varios planos. Quando vejo uma viagem, tipo que a gente planejou pra esse ano mais que não  rolou... quando o computador  trava, a impressora não puxa.. quando não  consigo responder  alguma pergunta  das crianças,  ou quando não  consigo configurar algum aplicativo.  Quando eu escuto um barulho  la de trás, quando  eu vou no comércio  de bicicleta,  quando eu chamo um uber, e mais um... quando  no final do dia eu não  tenho ninguém  pra "me render" com as crianças  e minha paciência  acabou a muito tempo. Quando  ta chovendo, quando ta pesado, quando  eu não  sei por onde começar.  A ausencia da presença dele bate com força em mim, como um porrete, e dói  fisicamente  e me deixa perdida. 

A dor da saudade é  quase  mais cruel pq ela esta toda dentro de mim. Da falta  que faz, da culpa por ter feito algo ou por não  ter feito, por ter dito algo ou por nao ter dito. Da sensação  dele no banheiro,  do abraço que não  vem, da dança  na hora  errada, da careta nas poucas vezes que eu queria tirar foto. Da voz, do cheiro, da pele. Saudade do passado, saudade do futuro que a gente estava planejando, do nosso desconhecido que eu não tinha medo pq tinha ele do meu lado.  

Ainda é  difícil  acreditar  pq não faz sentido.  Eu falo com as pessoas para ver se torna mais real, mas é  real pra quem ta de fora, quem ta longe. Pra mim não  faz sentido parece mentira, parece que ele vai chegar puto pela brincadeira  de mau gosto. Ao mesmo tempo não  consigo fechar os olhos e lembrar dele  da voz. So lembro do velório,  do caixão,  daquela sensação  de estar caindo num buraco  sem fim enquanto as pessoas falavam comigo. Mais ainda assim eu não  consigo acreditar  e entender o que aconteceu

Estou nesse misto de dor e tristeza, perdida dentro de mim. Sem entender quem eu sou agora e o que eu vou fazer amanhã (era mais facil quando ele decidia tudo  mesmo quando decidia nao fazer absolutamente  nada). As pessoas me chamam de forte, dizem que eu tenho que seguir pelas crianças.  Que eu aonda estou aqui e eles tbm. Mas parece que esta tudo borrado, tudo rora de foco e fora de sentido. Eu digo que estou seguindo  que Deus esta ajudando, mas estou no mesmo ponto que estava dia 11/09 quando eu dizia que eu não  sabia o que eu ia fazer sem ele.