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05 março 2015

O que se aprende em uma UTI neo

Quando a dra me avisou que estava ligando para o hospital para reservar o centro cirúrgico, eu não pensei em mim. Não fiquei com medo da cirurgia, nem da dor ou das agulhadas... Eu só pensava que Caio no estava pronto... 

Eu estava com 34,5 semanas. Independente da situação que ele estivesse, e iria para a uti neo natal sem limite se tempo. 

Por mais otimista que eu fosse (ou que fingisse ser), o medo de algum problema era claro... E era só no que eu pensava. 

Quando ele nasceu, vi o quanto era miudinho e todo enrugado - a gente chamava ele de velhinho (bulling familiar ;), mas seu choro alto e forte foram um alívio para o meu coração. 

Sabia que ele iria para UTI de qualquer forma pelo período gestacional, mas o peso e suas condições iriam determinar o quanto ele iria ficar lá. 

Ele bateu na trave em relação ao peso. 2kg era o minimo para não ir. Ele nasceu com 2,005kg e mais uma vez fiquei muito aliviada. 

Ele foi levado direto para a uti neo natal para que verificassem sua situação e eu fiquei ali, no centro cirúrgico, terminando os procedimentos, dando Graças a Deus por tudo ter dado certo, no fim. Mas ainda faltava um tanto para o fim. 

Ed foi junto com ele e viu como seria, conversou com a pediatra responsável do turno, levou Laís para conhecer o pequeno. Ele ficou tranquilo. Naquele momento não tínhamos alternativa a não ser ficar tranquilos.

Ir para o quarto sem o bebê não é a melhor das experiências. Os médicos e enfermeiras mandavam eu aproveitar e descansar, não falar, dormir. Mas meu pequeno tava longe de mim não era tao simples relaxar. Acabei passando muito mal na primeira noite e pela manhã. 

Chorava de dor e por não poder ir ver meu filho. Nisso contato tinha sido por alguns segundos, um minuto, no maximo. Ele não conhecia meu cheiro, não tinha pego o seio no primeiro instante. E minha condição nos deixou longe por um dia quase inteiro. 

Cheguei na UTI no final da tarde. Eu estava elétrica, mas em choque. Meio sem saber como agir. 

Me explicaram como era o esquema para entrar, quem poderia entrar e que meu acesso era irrestrito. Que eu deveria ir direto pra incubadora dele e que sempre teria una enfermeira para me ajudar. Falaram que não era permitido roupinhas, somente meia, luva e as fraldas descartáveis. (Depois descobri que ele poderia usar suas mantas e coeiros na forração da incubadora).

Ele era tao pequeno, tao indefeso. A vontade era pegar e ir embora para casa. Pro nosso ninho. Mas eu tinha medo ate de pegar no colo. 

Quando o peguei pela primeira vez, com ajuda da enfermeira, o medo foi embora. A fonoaudióloga veio para as orientações em relação a pega correta do bico do seio para a amamentação. Descobri que Laís mamou com pega errada a vida toda.. Rsrsr 

Ele estava com a sonda de alimentação e com outros aparelhos conectados para medir seus sinais e respiração. 

Na primeira pega ele mostrou que era meu filho. Abocanhou com tudo e sugava como se não houvesse amanhã. Mas eu ainda não tinha nada. Nem o raio do colostro para fazer uma graça. Estimulamos por um tempo, depois a enfermeira veio com o LA. 

Voltei pro quarto com a orientação de estimular e beber muita água. Mas nesse tempo eu tentava tbm controlar ou aprender a lidar com a dor e o mau estar, pq em menos de 3 horas eu desceria de novo. 

Na terceira visita ele recebeu alta da sonda de alimentação. Ele tinha aprendido a sugar tanto o peito, quanto a chuquinha. E foi nossa primeira conquista na UTI. 

Segui descendo o maximo de vezes que eu conseguia. Quando eu me acostumava com uma equipe, lá vinha outra. 

Sobre as enfermeiras, na maior parte do tempo eu fiquei muito tranquila. Elas tratam os bebês com muito carinho. Mais que o cuidado básico de uma UTI, mais que os cuidados mais técnicos quando se fazia necessário. A grande maioria brincava e dava carinho, conversava com os bebês e com as mães. 

A gente só tem noção do que é, quando se passa.

Existe um código de conduta nas uti's que diz que vc não pode ir, olhar, perguntar nada que não seja do seu bebê. Mas é impossível passar despercebido de tantas historias como a sua. No meu caso, vi mães e bebês que estavam com uma situação ainda mais complexa. 

Eu não imagino a dor de uma mae que passa três meses com seu bebê dentro de uma UTI. Mas presenciei a felicidade de uma mãe no momento da alta depois de tanto tempo. E hoje ainda me pergunto como será que estão aqueles bebês e aquelas mães?!

Caio perdeu ao todo somente 55gr ate começar a recuperar o peso. O que foi mais uma vitória. 

Uma pessoa que faz cesárea fica em media dois dias no hospital. Eu fiquei 5. O que foi bom para minha recuperação não ter sido ainda pior. E foi melhor ainda pq aproveitei todos os momentos que pude e que não pude para ficar com ele e estimular a amamentação. 

Na quarta, terceiro dia de UTI ouvi uma enfermeira que queria dar uns beijinhos nele, dizer que já podia pq ele tinha saído da... E usou um termo que não me lembro, mas que era tipo observação. Considerei nossa terceira vitoria. 

Eu ia de três em três horas em todos os momentos que podia. O que me rendeu dois problemas com duas enfermeiras diferentes: Uma me mandou ir dormir, pq não adiantava ficar indo toda hora - fui na mamada de meia noite; e a outra mandou ná dar o peito pq tive uma pequena fissura e o bebe ia mamar e consequentemente evacuar sangue. As duas confusões foram desfeitas pelas pediatras dos dias que seguiram.

Apesar de ter ficado muito mais tempo que a media (fiquei 5 dias internada) não foi o suficiente para Caio sair junto comigo. No quarto dia sai rindo de uma mamada, pq a medica disse que tinha chance de ele ter alta junto comigo no dia seguinte... e na mamada seguinte sai chorando, pq ele estava no limite para ictericia e por precaução deveria ir para o banho de luz, que levaria maus um dia e mais outro para ter confirmação que estava tudo bem.

Sabia que era o melhor para ele, mais ir embora com mala, bebe conforto, com as mão vazias... era devastador. 

Me ocupei o maximo que pude na tarde em que sai. não rinha condições de esperar todas as mamadas e isso tbm me destroçava. Mas cheguei o mais cedo que podia, considerando a distancia e minha situação física, no dia seguinte. 

Para mim, que não estava tendo uma recuperação muito fácil, foi absurdamente mais dolorido. foi o tipo de coisa que é preciso reunir todas as forças e mais um pouco para dar conta. Saí de la chorando mais uma vez, mas com a esperança da alta no dia seguinte.

As medicas são incríveis. As enfermeiras fazem o trabalho duro, mas são as medicas que nos confortam. E o fazem sem dar falsas esperanças, fazem com delicadeza e carinho, mas sinceridade.

No dia seguinte fomos recebidos com um sorriso enorme de duas delas.. Caio tinha feito o teste do pezinho... e essa era a penúltima coisa antes da alta. Eu tremia de felicidade, juro.

A última coisa para a alta era a minha segurança para cuidar dele sozinha. E para isso fui testada com a troca de fraldas e cuidado com o umbigo. Já vinha sendo testada quando me liberaram para pegar e colocar ele na incubadora. Desafiador trocar fraldas de um ser tão pequeno (em casa, só eu fiz isso durante algumas semanas. Pai e avó tinham medo).... mas ó, passei com louvor!!!

Uma hora depois saímos com ele. Duas voltas nas mangas no macacão e muita, muita felicidade!!!!

***

Sumi de novo, eu sei... Puerpério, minha gente, não é facil!!! Mas to de volta... demorei a terminar esse relato, pq era o mais dificil.. e confesso que fui o mais breve... no dia que comecei a escrever, chorei e dormi mal com as lembranças... passou!!!!

To doida pra contar de como estamos.. começar a postar as gracinhas dele, seu desenvolvimento e a relação de Laís com ele!!!!

Volto tbm para me animar... para contar da vida e dos velhos dilemas que não mudam... ou mudam, graças a Deus!!! Ah.. e to doida para registrar sobre a amamentação!!!

Estamos bem!!!

2 comentários:

  1. Deve ser mesmo desesperador ter que ir para o quarto sabendo que seu bebê recém nascido ainda não pode te acompanhar porque tem que ter cuidados especiais na UTI neonatal. Mas o importante é que agora está tudo bem, você finalmente o tem em seus braços e agora vai poder aproveitar bastante esse serzinho maravilhoso! Parabéns pelo seu baby!

    Beijos!
    www.baudabijou.com.br

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  2. Filho de mãe guerreira, guerreirinho é. Caio foi pegando o peito de cara já pra mostrar que não veio pra brincadeira!!

    Brincadeiras à parte, realmente deve ser devastador sair da maternidade sem o bebê. Só consigo imaginar por experiências que me contam, mas tivemos um caso próximo com minha irmã. Já faz tempo, eu nem era mãe, mas o parto dela foi um festival de problemas, de pré-eclâmpsia dela à falta de oxigenação do bebê. Não vou estender o assunto porque o final não foi feliz... só comentei porque acho as mães que enfrentam UTIs as mais fortes de todas.

    E agora chega de tristeza e volta pro blog pra contar como vocês estão!
    beijo!

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