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06 fevereiro 2015

Fim do parto e Síndrome de Hellp

Durante toda a gravidez eu procurei médico que me desse segurança e que acreditasse nas mesmas coisas que eu acreditava.

Não pedia muito. Queria respeito, cuidado, não ser tratada como idiota, entender as coisas que eu sentia, ser atendida (de alga forma) quando eu precisasse... Essas eram coisas básicas. Coisas que meu primeiro GO tinha feito bem, coisas que o pediatra de Laís sempre fez, coisas que eu acredito serem básicas quando alguem escolhe medicina como carreira. 

Tbm queria algo mais complexo: a busca pelo parto humanizado. Ideal para mim, enquanto gestante, e para o bebe. 

Essa busca, tanto de uma coisa quanto de outra, foi muito difícil para mim até o 6° mês de gestação... Eu não me sentia segura, nem sabia que caminho tomar ate então. 

As possibilidades eram infinitas e duas coisas eram certas na minha cabeça: 1° que eu pagava um plano caro demais para ser tratada como eu estava sendo. 2° eu só teria o parto humanizado ideal se eu pagasse (bem) para isso ou arriscasse a saúde pública. 

Confesso que sofri e perdi muitas noites de sono por causa disso. Pesquisava, achava pessoas, lia... E ao invés de me emponderar, como dizem, eu estava ficando cada vez mais assustada e frustrada. 

A gestação evoluía, cada vez eu tinha uma coisa diferente (enjôo, enchaqueca, gastrite, stress, pressão muito baixa, um episódio de pressão alta)... E eu estava no escuro.

No meu último post sobre parto eu estava dividida... Entre marcar com a medica humanizada particular e ir na medica cesarista declarada do plano. 

Marquei com a humanizada e tbm fui na do plano. 

A consulta do plano era antes. Eu já sabia o que esperar e fui armada e tentando minha ultima alternativa. A medica era indicação do grupo do face, e a indicação era clara: ela não fazia parto normal. 

Fui gratamente surpreendida por numa médica jovem, simpática e mãe de três filhos (2 gêmeos). Conversamos... Ela falou muiiiiito, me perguntou mil coisas e explicou outras mil... Ela ia pegar um pré natal no fim e foi tao atenciosa como se estivesse comigo desde tentante. 

Lá pelo meio da consulta ela pediu licença e explicou que não era adepta só parto normal - o que não é o que se espera na obstetrícia. E me explicou seus motivos: Três filhos, com menos de 5 anos, que precisam de atenção e de rotina. E a única forma que ela conseguiu, no meio de plantões, consultas, aulas na faculdade... Foi estabelecer essa condição. Uma condição não engessada, mas que daria a ela a chance de deixar a vida mais organizada. 

Ela não me iludiu ou tratou como idiota, não fez objeções as minhas vontades r medos em relação ao parto em meio elas festas de final de ano. Mediu, pesou, sentiu o bebe... E só fez o toque pq eu estava insegura com as cólicas que andava sentindo. 

Sai de lá reconfortada, afagada, me sentindo amparada. Não fui intimidada ou enganada. Eu estava em pânico e fui acalmada. 

Fui pra casa conversando muito com marido. A consulta com a humanizada seria no dia seguinte e ainda não tinha falado com ele. 

Mas fomos cogitando todas as hipóteses. Sobre o parto, as consultas que faltavam até lá, sobre o hospital e os valores que deveriam ser pagos. E sobre a rede publica. 

Não acho certo a realidade que estamos hoje na obstetrícia. Mas contínuo achando o mesmo que senti quando fui conhecendo a realidade e as reais possibilidades/necessidades de parto para a mulher... Acho que antes de mudar a cabeça e a cultura das mulheres, é preciso mudar o sistema. A mudança tem que vir dos médicos. 

Hoje começo a ver que isso esta acontecendo e tenho consciência que esta acontecendo pq as mulheres estão brigando por isso. 

Mas EU não me sentia pronta ou disposta para brigar por uma coisa que deveria ser meu direito. 

EU não me sentia pronta para só mudar a mão que receberia o dinheiro. Pq no fim esse tbm é o objetivo (se não os humanizados atenderiam pelo plano de saúde) 

EU não entendia como as mesmas mulheres que lutavam contra aquele sistema faziam isso estigmatizando e culpando as mulheres que, como eu, não se sentiam dispostas física e financeiramente para lutar. 

EU não arriscaria, por medo, a rede pública. Não que não possa ser boa... Pode e deve... Mas a historia diz outra coisa... E mais... EU acredito que muito do que se tornou a cultura da cesárea foi por conta do terror que muitas mulheres viveram nos seus partos na rede pública. 

E por fim, EU não tinha grana para bancar o parto considerando todas as despesas que eu já tinha. 

Pensei muito. Li muito. Conversei muito. E acabei vendo a realidade de outra pessoa que como eu queria viver aquela realidade diferente, mas que não era a realidade dela. 

Quando vi aquilo, pensei... Que doida! Depois pensei... Que dó dela, não é assim tão simples... Por fim, pensei... Eita carai... Essa tbm é minha realidade e tbm estou com essa piração. 

Cancelei a consulta com a humanizada e assumi que viveria a realidade que podia viver naquele momento. Tentaria entrar em trabalho de parto se as condições estivessem boas para isso e ia parar de me torturar... O risco no final era sofrer mais... E, depois de tudo, eu não queria mais riscos. 

Depois do parto e de tudo se normalizando, pensei: (desculpa o palavrão) Putaquepareo... Tudo realmente acontece por num motivo... Não escapamos disso. 

Se eu não tivesse embirrado com o hospital... Caio seria transferido para outro hospital em outra cidade, pq aquele não tinha UTI e seríamos separados. 

Se eu tivesse continuado com aquele medico que mal me examinava ou considerava meus sintomas... O resultado poderia ter sido bem pior.... 

Lembro da medica falando na sala do parto sobre a hellp. Mas eu estava tão assustada com tudo, que não consegui entender direito o que aquilo significava. E não pensei naquilo... Na verdade não tive como. 

Passei muito mal na primeira noite. Muito. Muita dor e, no meio da madrugada, uma leve hemorragia. Vomitei muito e a dor só aumentava. Só fui ver o Caio no final da tarde seguinte. Eu só o tinha visto assim que ele nasceu e estava sofrendo muito por isso. 

A pediatra da UTI queria que eu descesse mesmo de cadeira de rodas, mas eu nai conseguia nem isso. O pós operatório foi muito dolorido. 

E conseguiu ficar um pouco pior depois. Eu não repousei. Descia a cada três horas para a UTI, andava muito e acabava falando muito. Sofria por mim e por ele longe de mim. 

Todos os mimos oferecidos e prometidos pelo hospital não aconteceram, eu não queria saber se tinha música ambiente ou se vinham falar de fralda. Estava focada em ficar de pé e não sentir tanta dor para não prejudicar a amamentação. E eu senti muita dor (bom registrar, pq memória seletiva é do carai para boicotar a gente e só trazer momentos felizes). 

Quando conversei com a medica nas visitas fui entender o tamanho da coisa. Meus exames deram alteração elevada nas enzimas hepáticas e desenvolvi a pré-eclampsia. O nível de potássio estava alto e para "melhorar" o quadro, tive a anemia aguda depois do parto com indicação de transfusão... A medica não entendia - mas dava graças a Deus - como eu não tinha ido para a UTI tbm. 

Tomei tantos remédios quanto as ativistas humanizadas diziam que precisava tomar por causa da cesárea. E senti tanta dor quanto desejavam que sentisse quem "preferia" cesárea. E isso me afastou ainda mais do grupo que apóia essa mudança.

No fim continuei sentindo muita dor por uns 20 dias. Precisei de ajuda para tudo nesse tempo e tomei remédios fortíssimos para dor. Mas não fui para a UTI, não fiz a transfusão (a medica chegou a um consenso comigo, minha família e mais duas medicas, que eu conseguiria recuperar com alimentação e medicação oral) e não morri hehehehe. 

Não sou entendida sobre a síndrome. Só soube que a tinha quando tratei ela. O tratamento é o parto imediato, e pelo que li, deve ser feito em qualquer período gestacional para evitar a morte materna. E foi o maximo que li... Já tinha passado, estávamos bem, nos recuperando... Não precisava ficar me martirizando sobre o que poderia ter acontecido ou não. 

Passou... Hoje dois meses depois já é quase uma lembrança esquecida, mas foi uma experiencia que me fez aprender muito. E principalmente rever a vida com outros olhos e outras prioridades. 

Continua...